POR UMA MUDANÇA DE HÁBITOS E COSTUMES
Informativo acerca da reunião CANECA - Direção do HUOL
“O inferno são os outros”
Jean-Paul Sartre
Que atire a primeira pedra quem nunca faltou uma aula ou ambulatório por razões diversas. Como todos sabem, temos direito a 25% de faltas em nossas atividades, desde que, é bom lembrar, com a devida justificativa e não por simples abandono de posto. Até porque, somos humanos, adoecemos e, como todos, temos nossa parcela de problemas pessoais e familiares - que por vezes interferem em nossa vida acadêmica.
Enquanto estudantes de medicina, dizem que vivemos reclamando da vida, da falta de tempo, das condições em que nossa faculdade se encontra, da estrutura curricular, da falta de infra-estrutura e/ ou pacientes e/ ou professores e/ ou estágios.
Nessa forma de pensar, parece mesmo verdade que “a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa”. Todavia, basta que ele avance um pouco mais sua linda cerca-branca-de madeira por sobre o nosso quintal já verde-lodo-desbotado-de-cerca-inexistente-com-metralhas -acumuladas, para imediatamente nos lembrarmos DO QUE É NOSSO, DE FATO E DE DIREITO.
Sempre que surgem ameaças à integridade do nosso “microcosmos”, ou tentam compartilhar, sem cerimônia, do nosso íntimo convívio, gera-se um arco reflexo de ataque/defesa. Assim, desde que foi notada a presença de estudantes de medicina, que não da UFRN, nas dependências do HUOL e MEJC, choveram denúncias na forma de comentários em fóruns de discussão no SIGAA.
Argumentou-se a respeito, sugestões foram feitas e este tema foi então incluído na pauta da reunião já agendada entre Direção Geral do HUOL (representada pelo Dr. Lagreca) e representantes do CANECA, em 02 de outubro de 2009.
Todos os pontos discutidos nesta reunião são de interesse COLETIVO dos estudantes de MEDICINA da UFRN. No entanto, a que vos escreve estas mal digitadas linhas sabe que alguns só lerão esta matéria até o final por causa do referido “incidente da cerca.”
É bom que se relembre a tentativa frustrada, há pouco mais de um ano de se implementar o uso de crachás por parte de estudantes e profissionais do HUOL .
Havia inclusive um estande explicando e tentando sensibilizar a todos da importância de se identificar para entrar num estabelecimento hospitalar. Alguns, mais imediatistas, indagariam, com razão: “ por que se usar crachá se nem o porteiro pergunta e se mais dia menos dia acabarei esquecendo em algum lugar?”
O contra-argumento mais plausível seria o de que Roma não foi feita em um dia. Embora sejamos um Hospital-Escola Secular, não entramos em processo demencial inexorável que nos impeça de ADQUIRIR NOVOS HÁBITOS E COSTUMES – este, por sinal, um dos melhores métodos de profilaxia contra o Alzheimer.
Na medida em que nos habituarmos a utilizar tal identificação, estaremos dando resposta à sociedade de que literalmente acolhemos e somos acolhidos pela instituição que representamos. SIM, O HUOL É NOSSO, parafraseando a campanha getulista pelo ouro negro.
Esperamos, assim, que todos, embalados por esta onda de protecionismo e brio ferido, colaborem com a campanha O HUOL É NOSSO, podendo confeccionar GRATUITAMENTE seus crachás na sala dos Recursos Humanos, 3º andar do prédio administrativo do HUOL, onde fica a Direção Geral . Basta levar uma foto 3X4.
Mas a resposta às visitas inesperadas não acaba por aí. A Direção Geral do HUOL deixou claro que não tinha conhecimento destes fatos nem concorda com tal comportamento. Informa, ainda, que quem flagrar semelhante situação deve se informar do nome de quem está levando esses convidados e então registrar e enviar essa queixa a três locais: Direção Geral do HUOL, Coordenação de Medicina e CANECA.
Só dessa forma a Direção do HUOL terá respaldo para chamar a atenção de quem está agindo por conta própria, numa conversa sincera e direta como prometeu pessoalmente Dr. Lagreca. É de se lembrar que o HUOL nunca fez, nem está em vias de fazer convênio algum com escolas médicas privadas. Por sinal, investigamos se isso é possível e ele disse que só dependeria das partes envolvidas. Ou seja, se as referidas escolas acenarem com investimentos tentadores, pensem bem no que poderá ocorrer com as futuras enfermarias do prédio novo que aguarda inauguração para março de 2010 – a depender somente das licitações e andamento final da obra, pois o dinheiro já nos foi enviado de Brasília.
Portanto, para que este futuro não muito pródigo se vislumbre é condição sine qua non a PRESENÇA, de agora em diante, de um grande número de estudantes de medicina nas reuniões de colegiado onde serão votadas estas questões – e quanto mais gente melhor, porque lá temos direito a voto e a voz, podendo expor nossa objeção a qualquer destes convênios. Outra manifestação útil seria a confecção e entrega de abaixo-assinados, por parte de cada período do Curso de Medicina da UFRN, contra a presença, no HUOL, de estudantes de medicina de outras instituições sem o devido convênio firmado. Estes devem ser encaminhados aos Departamentos, à Coordenação do Curso e à Direção Geral do HUOL.
Mais uma vez fica aqui o apelo para que nos organizemos mais enquanto estudantes, para zelar pelo que é nosso, seja na bonança, seja nas intempéries . Um ato concreto e simples é ter sempre alguém de todos os períodos nas reuniões do CANECA, para se informar e ajudar nessas mudanças de hábitos e costumes – ou vocês acham que é justo jogar toda a responsabilidade nas costas do CANECA e ainda cobrar resultados?
Finalizando, para quem ainda não entendeu o porquê da referência à célebre frase de Sartre, “o inferno são os outros”, vejamos. Como filósofo do existencialismo, Sartre entendia o ser humano como um ser “Para-si”, o qual tem sua existência precedendo a essência - ou seja, a forma como vivemos nossas vidas determina quem somos em essência. Esta última é extremamente dinâmica, uma vez que só depende de nós mudarmos nossas atitudes para adquirir uma nova essência. Mas deixemos que Sartre fale por si só :
1 “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: esse é o primeiro princípio do existencialismo. (...) Desse modo, o primeiro passo do existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência. Assim, quando dizemos que o homem é responsável por si mesmo, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é responsável por todos os homens.” In SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Tradução GUEDES, R.C. Disponível em http://www.pdf-search-engine.com/o-existencialismo-%C3%A9-um-humanismo-pdf.html. Acesso em 08.10.2009.
Enfim, caros colegas, depois desta breve viagem existencialista fenomenológica, esperamos que tenha ficado ao menos a mensagem de que somos sim, os únicos responsáveis pelo tipo de pessoa/médico que almejamos ser - independente da personalidade, do ambiente, da faculdade, da infra-estrutura. Penso, cá comigo, que somos um resumo das escolhas que tomamos ao longo da vida, e quanto mais nos distanciamos da decisão de fazer escolhas, mais nos afastamos do que há de humano em nós. Sigamos em frente, na certeza de quais escolhas queremos para todos nós.
Dda. Roberta Lacerda Almeida de Miranda 12º período.