O Centro Acadêmico Dr. Leão Sampaio (CALS), entidade representativa do corpo estudantil do Curso de Medicina do Cariri – Universidade Federal do Ceará, vem manifestar, por meio desta, sua reprovação à abertura de novas escolas médicas públicas ou privadas no Estado do Ceará, corroborando posição anterior tomada em âmbito nacional pela Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM) e expressada também recentemente pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará. Sob argumentos sofismáticos da necessidade de expandir o ensino superior no país, de que faltam médicos no estado do Ceará e de que a população necessita de mais desses profissionais, querem justificar a abertura de novas escolas médicas privadas em Quixadá (Faculdade Católica Rainha do Sertão) e em Sobral (Faculdades INTA), esta última já anunciando em jornal de grande circulação no estado a contratação de professores, dando como certa sua abertura.
Ora, o Ceará já é o estado com o maior número absoluto de escolas médicas do Nordeste, que perfazem um total de sete. Estas, a partir de 2012, entregarão à sociedade mais de 640 novos médicos anualmente; isso significa que serão formados por ano mais do que 7,5% do número total de médicos existentes no estado atualmente. Em todo o Nordeste estão previstas - entre propagandas das faculdades e divulgações de visitas para credenciamento pelo MEC - mais dez novas escolas médicas.
Com efeito, segundo as estatísticas atualizadas do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará - CREMEC (que podem ser acessadas emhttp://www.cremec. com.br), o Ceará possui atualmente 8380 médicos, sendo 6.483 só na capital. Como se vê, há uma concentração de médicos em Fortaleza, evidenciando o problema da concentração de médicos nas capitais, fenômeno que ocorre em todos os estados do país. Isso acontece devido às melhores condições de vida e de trabalho que as capitais são capazes de oferecer, condições estas que a maior parte das cidades interiorianas ainda não consegue oferecer para fixar o profissional médico. Essa realidade não mudará (mesmo aumentando o número de médicos no estado) enquanto, no interior, embora muitas vezes com salários melhores, o médico não tenha acesso à educação continuada, a serviços de saúde equipados para exercer a medicina com eficácia, a opções de lazer e cultura, não se interessando em trabalhar no interior.
Analisando a conjuntura nacional, até 1996, havia 84 cursos de medicina no país (60% públicos e 40% privados). Nos últimos 12 anos, esse número saltou para 176 e a proporção entre particulares e públicas se inverteu, pois, das 92 faculdades mais recentes a abrirem no país, 69 são privadas. Ressalte-se ainda que, de 1996 a 2008, abriram-se mais faculdades de medicina no Brasil que de 1808 a 1995. Essa forma de expansão do ensino superior, às custas de cursos pagos, só vem a beneficiar as parcelas da população que têm condições de pagar as caras mensalidades de um curso de medicina.
Não bastasse, esse “boom” de cursos médicos é usado ainda como argumento para a criação do exame de certificação para os estudantes egressos, a exemplo do exame de ordem do curso de direito, sob o pretexto de ter que proteger a população da falta de qualidade de alguns profissionais. Uma avaliação pontual, ranqueadora, que estimula a competição, mas não garante a qualidade da formação, ao contrário, joga para os alunos a total responsabilidade pelo seu aprendizado para posterior aprovação no exame.
Não será a abertura de novas faculdades no estado, por si só, que irá “interiorizar a medicina” ou garantir o acesso à saúde como um direito inalienável da população. Precisamos de médicos comprometidos com a construção de uma sociedade na perspectiva da emancipação humana e não simplesmente de um maior número de médicos. Assim, mais do que aumentar o número de médicos formados a cada ano, antes é preciso que lutemos pela garantia da qualidade da formação médica, este sim um fator preponderante para a qualidade da assistência prestada à população.
Centro Acadêmico Dr. Leão Sampaio – CALS
Gestão 2009 – União, luta e construção
GDT de Educação da Regional NE2 da DENEM
Nenhum comentário:
Postar um comentário