Machado de Assis, pela boca do seu Quincas Borba, tentando explicar a sua teoria do humanitismo, disse: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas!”. Pois bem! Aceito as batatas, desde que os vencidos aceitem a minha compaixão e recebam um lenço e o livro de Sun Tzu, “A arte da guerra”.
Dou um lenço, para enxugar as lágrimas, já que o choro é mesmo válido para os derrotados; dou um livro, para que os adversários aprendam sobre a guerra e a sua arte e se tornem melhores guerreiros, pois essa história do FLAMENGO viver ganhando, está nos deixando entediado.
Nunca um título teve tanto a cara do FLAMENGO, como esse brasileirão de 2009. Saindo do fundo do poço, vários pontos atrás dos líderes, o rubro negro da gávea usou como ninguém a sabedoria do chinês fantástico, que 500 anos antes de Cristo, escreveu o seu sensacional livro.
E ensinava Sun Tzu: “Lutar e vencer todas as batalhas não é a glória suprema: a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar... O guerreiro vence os combates não cometendo erros. Não cometer erros é o que dá a certeza da vitória, pois significa conquistar um inimigo já derrotado”.
Os nossos adversários abusaram do direito de errar: O Palmeiras passou quase vinte rodadas sendo líder, menosprezou a todos, assumiu sua condição de campeão por antecipação e viu-se o título lhe escapar, e quando seu exército quis reagir já era tarde. Aliás, o exército palmeirense se esqueceu de ler a página 56 do livro de Sun Tzu: “Quem não for precavido e fizer pouco dos seus adversários, certamente será capturado por eles”. Final melancólico do alviverde paulista: terminou fora até da libertadores; O São Paulo - cheio de empáfia, o que já é natural e por isso Nelson Rodrigues dizia que não havia uma solidão maior do que a companhia de um paulista – quando assumiu a liderança talvez precisasse d as sábias palavras da página 64 da Arte da guerra: “Clamor noturno indica nervosismo. O medo torna os homens inquietos, levando-os a gritar de noite... Se há confusão no acampamento, o general tem pouca autoridade...”. A troca de socos entre os jogadores paulista (André Dias e Hugo), no jogo contra o time do Vitória, mostrou a desunião do grupo e não há vitória em exército desunido.
Já o nosso rubro negro, leitor assíduo de Sun Tzu, sabia que a página 86 era uma das mais importantes: “O general habilidoso conduz seu exército como se estivesse levando um único homem. Compete a um general ser calado e, assim, assegurar o sigilo; honesto e justo, mantendo dessa forma a ordem. Deve ser capaz de confundir seus oficiais e soldados com relatórios e aparências falsas, mantendo-os em total ignorância”. Então, o técnico Andrade agiu exatamente assim: se fazendo de morto... O tempo todo dizendo que o único objetivo do FLAMENGO era “apenas” conquistar uma vaga no G4, para disputar a libertadores. E na verdade, a vaga que o time da gávea queria era a primeira. Era o título. Por isso, ao assumir a l iderança, na penúltima rodada do campeonato, fez valer os ensinamentos da página 81 de Sun Tzu: “Para o soldado, dominar a rapidez é de suprema importância e ele jamais deve perder oportunidades”. E o FLAMENGO não desperdiça as oportunidades, afinal está lá no seu hino: “Vencer, vencer, vencer... (seis) vezes FLAMENGO, FLAMENGO até morrer...”.
P.S. já ia esquecendo... Aceito mesmo as batatas (que é ótimo para comer com bacalhau), já que no próximo ano, teremos a boa companhia, novamente, do nosso ‘co-irmão’ Vasco, e isso nos dá a certeza, de pelo menos seis pontos já garantidos...
Francisco Edilson Leite Pinto Junior
Professor, médico e escritor
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