Quem ainda não ouviu pelos corredores, nessas duas últimas semanas, rumores de que estamos a ponto de perder nossos estágios voluntários (extracurriculares) nos Hospitais Giselda Trigueiro (HGT), Hospital Geral Walfredo Gurgel (HWG) ou na LIGA?
Quem ainda não escutou outro acadêmico de Medicina dizer que presenciou médicos do HUOL, outros até nossos professores, levando estudantes de determinada faculdade de Medicina para estagiar em Hospitais como HGT, HGWG ou Maternidade-Escola Januário Cicco (MEJC)?
Quanto disso tudo é verdade ou boato? Vale a pena ficarmos parados sem saber o quê e como está acontecendo?
Bom, sempre acreditei que indignar-se fosse um verbo pronominal que significa “fazer sentir cólera despertada por uma ação indigna” e que, a meu ver, desencadeasse uma reação.
Senão, vamos aos fatos – uma vez que contra estes, não há argumentos. Em especial, nós que atualmente somos o 8ºp, estamos no “front” destes acontecimentos. Para quem não sabe, as 20 melhores médias da disciplina de Traumatologia cursada no 7ºp são selecionadas para um estágio voluntário no HGWG durante o 8ºp. Bom, pelo menos era isso que acontecia até o 1º semestre de 2007. Já na metade do 2° semestre de 2007, não recebemos nenhuma justificativa plausível para não termos iniciado ainda o nosso estágio. Alguns professores alegam que a sala de Politrauma fica superlotada com médicos, residentes, doutorandos de medicina, enfermagem e odontologia.
Estamos, há 1 mês, em contato telefônico e conseguimos agendar uma reunião para discutir a sobrevivência deste estágio, importantíssimo para nossa formação em urgência e emergência – ou esqueceram que o HUOL é um hospital terciário, só com pacientes triados? Onde aprender punção venosa central, entubação orotraqueal, suturas, IAM, edema agudo de pulmão, parada cardiorrespiratória? Quem nunca cresceu vendo ER e não via a hora de entrar no curso de Medicina para realizar aqueles procedimentos de urgência?!
Quanto ao estágio na MEJC, estamos buscando esclarecimentos junto aos coordenadores da disciplina de Toco-ginecologia e diretores da MEJC, para saber o quão inteirados destes estágios eles estão. Em se tratando de um Hospital-Escola pertencente a UFRN, é de nosso interesse discutir, junto ao Colegiado do Curso, a permissão para tal estágio, já que a MEJC é um espaço nosso de fato e de direito.
Não se trata aqui de simplesmente reprimir estudantes de outras faculdades, mas chamar todos ao bom senso: se, até para nós, acadêmicos da UFRN, faltam professores, carga horária, espaço físico e pacientes para a correta aprendizagem da disciplina de Toco-ginecologia, como explicar o milagre da multiplicação das condições de ensino para tais visitantes?
Um exemplo é a nossa turma, que cursou disciplinas pré-requisito como Semiologia e Clinica Médica para estar na MEJC (diferente destes outros estudantes que, pasmem, não pagaram tais disciplinas) e que já divide os rodízios de aula prática com residentes e doutorandos. Como então explicar por que nossa carga horária de aulas práticas não cresce, mas surgem estes espaços para “visitantes”?
Quanto ao HGT, há um certo blog na internet divulgando que, em breve, haverá edital de seleção para estágio voluntário no HGT para acadêmicos de medicina de outra faculdade.Este últimos, diferente de nós, da UFRN, não passaram pelas disciplinas pré-requisito de Semiologia, Parasitologia, Microbiologia, Imunologia e Infectologia. Como será que a direção do HGT vê esse estágio? Por que critérios tão diferentes na seleção dos candidatos?
Neste ponto, cabe uma ressalva importantíssima: defendo que a busca pelo conhecimento é livre e seu acesso não pode, nem deve ser cerceado. Entretanto, é importante que haja uma aquisição de conhecimentos e práticas de forma organizada, sistematizada e, principalmente, deliberada junto aos gestores das instituições de ensino e de seu corpo de alunos.
É inadmissível, para não dizer infantil, perdermos tempo com intrigas pela internet e principalmente estimulando animosidades contras os acadêmicos desta referida faculdade de Medicina. Se há alguém que nada tem a ver com isso são eles, que assistem a aulas onde sua grade curricular os indica e encaminha.
Devemos, sim, buscar satisfações destes gestores (nossos e deles), visto que a procura pelos estágios é uma realidade, tanto nos hospitais ligados a Sec. Estadual de Saúde Pública (Hospital Santa Catarina, HGWG, Hospital das Quintas) quanto nos hospitais filantrópicos (Liga e Varela Santiago). Estes hospitais detêm autonomia para fechar convênios com as instituições de ensino que lhes convier para realização de estágios curriculares e extracurriculares.
Mais ainda, devemos e podemos lutar pelo nosso espaço curricular e buscar garantias de que o acesso a estes hospitais, na forma de estágios extracurriculares, prime pela Meritocracia. Ou seja, que todos os interessados (seja qual for sua Universidade) tenham preenchido as mesmas disciplinas pré-requisito e realizem as mesmas provas de seleção, de forma que a vaga seja decidida democraticamente e sem favoritismos (sejam estes por tradição ou por interesses econômicos).
O que nós, estudantes de medicina de forma geral não percebemos, é que os órgãos e instituições de ensino se aproveitam exatamente da nossa desunião, desorganização e principalmente comodismo, para ditarem as regras ou burlarem as normas das Universidades Públicas. É por essas e outras que surgem professores se aproveitando da fragilidade dos sistemas, para lecionarem como querem e a quem querem, nas instalações de nossos Hospitais-Escola, sem dar satisfação a nós, que fazemos parte do curso de Medicina da UFRN e que temos o direito de lutar pelo nosso espaço, repito, em nossos hospitais-escolas: HUOL, HOSPED e MEJC.
E o que fazer então? Com relação aos acadêmicos de outras faculdades, estes têm de aproveitar seu grande poder de barganha juntos aos seus gestores. Uma vez pagando caro pela sua formação, devem exigir urgentemente um Hospital-Escola deles e não se contentar em dividir instalações superlotadas com infra-estrutura insuficiente para os próprios acadêmicos da UFRN.
Quanto a nós, da UFRN, devemos nos desfazer dessa inércia e passar a nos informar melhor sobre o que ocorre na nossa Universidade e no nosso Curso, para então agir, de forma organizada e coerente. Não adianta baderna, aquele que mais grita e mais barulho faz é o menos ouvido. Devemos incentivar e apoiar nossos colegas que estão agindo por conta própria e que são tão ocupados quanto nós – cada um no seu período, na sua realidade.
Como então você pode fazer sua parte? Procure se informar urgentemente sobre o REUNI, uma proposta do Governo Federal que visa aumentar o número de vagas nas Universidades e, em troca, investir em infra-estrutura e verbas complementares – atenção, leia criticamente o documento e pense quais seriam as conseqüências do aumento no número de vagas se tais verbas não forem implantadas adequadamente. Esse projeto interfere no modelo do nosso Curso de Medicina, propondo unificar a Faculdade de Medicina em torno do HUOL – MEJC – HOSPED.
E o mais importante: usem o CANECA como instrumento do nosso poder. Nós que fazemos o 8ºp nos reunimos com o Centro Acadêmico e de lá surgiram os seguintes apontamentos:
- formar comissões para investigar junto à Direção da MEJC, HGWG, HGT e LIGA a situação dos nossos e dos prováveis outros estágios extracurriculares;
- agendar, na semana seguinte à da CIENTEC, um Fórum de Estudantes de Medicina da UFRN, para esclarecer e discutir todos esses temas: “HGT e HGWG: situação dos estágios” e “REUNI” (o que é, quais as propostas e em que ponto ele afeta nossos internatos nos demais hospitais: HGT, LIGA e HGWG).
Era isso, gente, o recado está dado: informem-se sobre o REUNI, fiquem atentos para a data do Fórum, divulguem-no e compareçam.
Estamos vivendo um momento de questionamento, indignação, quiçá até revolta, contra o estado deplorável em que se encontram as instituições de saúde no Brasil, tanto na situação acadêmica quanto dos profissionais médicos e não-médicos.
Não podemos perder o bonde da História.
O futuro da nossa formação médica está em jogo, e você o que vai fazer a respeito?
a) Nada. Isso não me afeta. (Ah tá... Já sei, vai procurar por conta própria seguir o amigo médico do seu pai e não vai ter como validar nenhum certificado pra prova de Residência)
b) Nada, acho até válido, mas vou ficar na minha e deixar que lutem no meu lugar (Legal, se todo mundo pensar assim é que não vamos a lugar nenhum...)
c) REUNI?! Nunca ouvi falar. O que danado está acontecendo com os estágios que eu quero fazer? Será que vão acabar? Quando é o negócio do Fórum, hein?
GABARITO:
a) Acadêmico Egoísta
b) Acadêmico Preguiçoso
c) Resposta Correta.
Roberta Lacerda A. de Miranda
Acadêmica do 8ºperíodo