Mais uma contribuição para o debate:
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ENTREVISTA
“Ferreira Gullar ignora a inserção social do doente mental”
Poeta publicou artigo criticando Lei de Saúde Mental e fechamento de hospitais psiquiátricos. Professor da UnB rebate
Leonardo Echeverria - Da Secretaria de Comunicação da UnB
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O poeta Ferreira Gullar publicou, no dia 12 de abril, um artigo no jornal Folha de S. Paulo em que critica de forma violenta a Lei da Saúde Mental, instituída em 2002. Pai de dois doentes mentais, o poeta defende a necessidade de internação de pacientes esquizofrênicos, que podem ameaçar a própria vida ou a de familiares. "É hora de revogar essa lei idiota que provoca tamanho desastre", escreve.
O artigo provocou polêmica nos meios médicos, governamental e acadêmico. Mesmo dois dias depois da publicação do artigo, metade da seção de cartas do jornal é ocupada pelo assunto. A relevância do tema pode ser medida pelo fato que, no Brasil, cerca de 6% da população sofre de transtornos mentais severos.
Em entrevista à UnB Agência, Ileno Izídio, professor do Instituto de Psicologia, aponta os erros cometidos por Ferreira Gullar e questiona os motivos do poeta para criticar uma reforma pedida pelos movimentos sociais há mais de 20 anos.
Roberto Fleury/UnB Agência (arquivo)
UNB AGÊNCIA - É errado internar pacientes com doenças mentais?
IZÍDIO - O artigo do Ferreira Gullar está completamente equivocado. Ele não deve nem ter lido a Lei 10.216/02. A lei propõe o desmonte dos hospitais psiquiátricos tradicionais e transformar esses leitos em leitos para internação em hospitais gerais, em atendimentos nos centros de atenção psicossocial (CAPs), em centros de convivência e em residências terapêuticas. É óbvio que ele deve ter sido beneficiado com a internação dos filhos dele, porque gente louca dentro de casa incomoda.
UNB AGÊNCIA - O poeta chamou o deputado que propôs a lei de “cretino”, porque não imagina o quanto dói a um pai ter que internar um filho, devido a ameaças de agressão.
IZÍDIO - Nem todo esquizofrênico é violento, nem todos os casos precisam de internação, e a lei propõe que nesses casos a internação seja feita em hospitais gerais. Lá a enfermaria psiquiátrica vai cuidar dele durante a crise. Depois o paciente volta para a sociedade e para os equipamentos que a lei propõe: CAPs, hospitais-dia. A idéia é que a internação dê conta da crise. Controlada a crise, um mês, dois meses depois, usa-se outros mecanismos.
UNB AGÊNCIA - No artigo, diz-se que o tratamento ambulatorial só serve para os casos menos graves.
IZÍDIO - Ferreira Gullar está ignorando o lado da inserção social do doente. Se ele tivesse um filho em crise e precisasse interná-lo, o filho ficaria 30 dias no hospital geral, e depois seria encaminhado a um CAP perto da casa deles. O Ferreira Gullar teria que ir na terapia familiar conversar sobre o problema do filho, e não simplesmente delegar o problema para os outros. Isso é uma coisa completamente diferente de exclusão do doente do convívio em sociedade. O poeta está criticando a lei, mas está esquecendo a sua própria responsabilidade sobre os filhos esquizofrênicos. Ele prefere delegar para os hospitais psiquiátricos. Vai manter o filho eternamente dentro do hospital?
UNB AGÊNCIA - O senhor participou do movimento que apoiou a Reforma Psiquiátrica. Como se deu essa quebra de paradigma, de diminuir as internações?
IZÍDIO - O que está errado no princípio da internação é que a crise e o surto psicótico cessam, e a pessoa continua internada. A luta do movimento social vem desde 1987. O Ferreira Gullar não sabe disso, porque ele não participou do movimento. Quando ele critica a lei, ele critica o movimento social. Ainda existem mais de 20 hospitais psiquiátricos no país, ao contrário do que o artigo diz, e são terríveis, manicômios tradicionais. Gullar não tem conhecimento da realidade, conhece só a realidade do filho dele. Esses hospitais já foram denunciados pelo Conselho Federal de Psicologia e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
Roberto Fleury/UnB Agência (arquivo)
UNB AGÊNCIA - O senhor diz que Ferreira Gullar critica a lei sem conhecê-la. Então qual seria a reivindicação?
IZÍDIO - Eu gostaria de ter atendido um dos filhos do Ferreira Gullar em momentos de crise, para saber quem é o Ferreira Gullar como pai. Eu trabalho com famílias e sei bem como a família constrói a loucura nas pessoas. Até que ponto existe a responsabilidade da família nos problemas que se quer delegar aos hospitais? Eu acho que o poeta precisa entrar em um processo de entender como os problemas mentais dos filhos se construíram com a participação dele. A pessoa que mais pode ajudar um filho é o pai, que conhece mais os filhos que os médicos do hospital. Eu me pergunto: quem o poeta está defendendo?
2 comentários:
Um absurdo o teor da entrevista concedida por um individuo chamado IZIDIO " professor de psicologia" que entre outras opiniões desastrosas, diz que " a família constroi a loucura das pessoas "... Pelo visto alguns psicologos não evoluiram nada mesmo após 70 anos da morte de Freud. Na verdade, a teoria da psicanálise não passa de uma fantasia criada por um mistificador que além de paranoico, era altamente egocentrico. È incrível como mesmo após a descoberta pelas neurociências, em 1990, que derrotou todos os princípios fundamentais da falecida psicanálise, ainda existam individuos, alguns até responsáveis pela formação de opiniões dos jovens, como é o caso desse " tal IZIDIO ' que ousam dizer que se o filho de Ferreira Gullar fosse seu paciente a situação seria outra.. è muita prepotencia desse sujeito e o que mais me admira é saber que a sociedade de psicologia também participa desse posicionamento absurdo, chegando a postar no seu site a informação que a Lei 10216 foi derrotada no congresso. Ora, é só olhar o DO de 6 de abril de 2001 para constatar que essa famigerada Lei se encontra sancionada pelo então presidente Fernando Henrique. Infelizmente, essa Lei vem sendo usada para esvaziar os hospitais psiquiatricos do SUS e lotar as chamadas " casas de recuperação mental " e os consultórios dos discipulos de Freud, que muitas vezes nem são profissionais de saúde. É um descaso criminoso a maneira como os doentes mentais vem sendo tratados no Brasil e muitas vezes com a colaboração indireta ( ou seria direta ? ) de pessoas que na verdade deveriam por obrigação ética e moral defende-los. Enfim, quero postar minha opinião como protesto, de forma a prevenir que pontos de vista como o do professor IZIDIO sejam levados a sério, o que seria um desastre científico.
Esquecir de comentar a pergunta deixada sem resposta no final do artigo postado por um centro acadêmico de uma Universidade. No meu tempo de estudante, os centros academicos eram verdadeiras representações dos universitários. Pelo visto agora, são meros divulgadores acéfalos de opiniões que representam meras teorias pessoais sem nenhum conteúdo útil.
Sobre a pergunta no final do artigo: ... quem o poeta está defendendo ... . Ora Sr. " professor " vc não sabe ? Ele representa a voz indignada, a súplica desesperada dos familiares dos doentes mentais brasileiros. Ele está defendendo a todos que convivem com essa saga, e se insugindo contra os que, infelizmente de uma forma ou outra continuam usufruindo de altos lucros à custa das enfermos mentais. A pergunta diz respeito aos mínimos direitos humanos de pessoas excluidas da sociedade e que não estão sendo respeitados até mesmo por quem deveria defende-los.
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