Como foram felizes Nelson Motta e Lulu Santos ao dizerem: “Não existiria som, se não houvesse o silêncio/ Não haveria luz se não fosse a escuridão. A vida é mesmo assim/ Dia e noite, não e sim...”. Pois é meu caro, a vida é mesmo assim: uma enorme contradição. Vida, morte; alegria, tristeza; casamento, separação; inteligência, ignorância; delicadeza, brutalidade; amizade, inimizade; rico, pobre; sonho, realidade; verdade, mentira; guerra, paz; amor, indiferença; e por aí vai.
Ah! Pensas que o contrário do amor é o ódio? Engana-se. No ódio, ainda existe um energia, que em questão de segundos, pode-se transformar em amor. Mas, na indiferença não há nada. Nenhuma troca. Tudo frio.
Eu sei que é difícil entender tudo isso: a vida, os homens, suas contradições. E é por isso que muitas vezes: “Têm certas coisas que eu não sei dizer...”. Muitas vezes, têm certas coisas que não compreendo... Gostaria sim, meu caro, de já ter a maturidade de um Rilker, para entender que: “Talvez todos os nossos dragões de nossa vida sejam princesas que guardam apenas o momento de nos ver um dia, belos e corajosos. Talvez todo horror, em última análise, não passe de um desamparo que implora o nosso auxílio”.
Ultimamente tenho me horrorizado muito com as pessoas. Chego até a pensar que elas são más. Que não tem coração. Que não têm espelhos em suas casas. Que não tem alma, nem sentimentos. Que são puras máquinas automatizadas. Meu Deus, quanta ignorância minha! Afinal, o que é o homem, senão “uma alma infante que carrega um cadáver...”, como lembra Marco Aurélio, nas suas meditações.
“Nós somos medo e desejo”, meu caro, “Somos feitos de silêncio e sons...”. E eu poderia neste momento calar, até por que: “Cada voz que canta o amor não diz/ Tudo que quer dizer,/ Tudo que cala fala/ Mais alto ao coração”. Mas, acredite, meu caro, silenciosamente eu vou te falar com paixão, carinho e respeito. Respeito pelo passado. Respeito pelo meu presente. Pela função de professor, que exerço, há mais de 18 anos. E na função de professor, isto sim, aprendi com Guimarães Rosa: “Aquilo que a gente mais ensina, é o que a gente mais precisa aprender...”.
Então é preciso apreender que ética, nada mais é do que AMOR. Sim, esqueceu os ensinamentos de Kant? “Não fazer ao outro, o que não gostaria que fizessem a nós mesmos... aja como se sua ação pudesse ser uma lei universal”, não são os princípios kantianos tão ensinados dentro da sala de aula, que se não ganharem as ruas, todo esse ensinamento fica vazio, sem sentido? Aliás, quer coisa mais vazia e sem sentindo do que aquilo que eu ensino, só serve para os outros e não para mim? O mestre é o exemplo, meu caro. O exemplo. Aprenda isso.
Aprenda também o que certa vez, foi ensinado por Albert Camus, que ao ser indagado como escreveria um livro sobre Ética, respondeu: “As primeiras noventa e nove páginas, eu deixaria em branco. E na última, escreveria apenas uma palavra: AMOR”. Então, se ainda tinha dúvidas, meu caro, de que ética é AMOR, aprenda mais isto.
Aprenda, também, o que disse Aristóteles, na sua “Ética a Nicômaco”: “Qualquer um pode zangar-se – isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa – não é fácil”. Por isso, é preciso, de vez em quando, voltar a Rilker e entender que certos horrores não passam de um desamparo que implora o nosso auxílio... e olhando bem, o seu erro pode nem ter sido tão grande e grave assim. Afinal, como dizia Karl Popper: “Somente os grandes homens cometem grandes erros”.
Pois bem! Agora eu me calo. Pois, “Tudo o que cala fala mais alto ao coração”, não é mesmo?
Francisco Edilson Leite Pinto Junior
Professor, médico e escritor.
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